O sábio Patanjali, autor do Yoga Sutras, o livro didático básico de ioga, afirma que a qualidade das nossas ações depende dos gunas que predominam em nós. Os três gunas - sattva, rajas e tamas - são considerados como as qualidades fundamentais da natureza, ou prakriti. Para podermos compreender isso plenamente, temos de examinar a interpretação hindu da criação e da dissolução do universo.
Diz-se que de tempos em tempos o universo se dissolve e depois é recriado. Quando ele está em sua fase não-definida, não manifestada, ele permanece em um estado latente no decorrer de um certo período. Durante este tempo, os gunas encontram-se em um estado de absoluto equilíbrio, e prakriti ou a natureza material, não se manifesta. Enquanto os gunas permanecem não-definidos, prakriti continua indefinido e o universo existe apenas em um estado potencial. Tudo que existe é consciência, o Ser Puro ilimitado e não-manifestado, Brahma, o Absoluto Imutável, que não tem começo nem fim.
Os gunas são às vezes descritos como energias, outras vezes como qualidades ou forças. Eles representam um triângulo de forces simultaneamente opostas e complementares que governam tanto o universo físico quanto nossa personalidade e padrões de pensamento na vida do dia-a-dia, dando origem às nossas realizações ou fracassos, alegrias ou infelicidade, saúde ou doença.
No que diz respeito à ação, sattva é a força criativa, a essência da forma que precisa se concretizar. Tamas é a inércia, o obstáculo a esta concretização. Rajas é a energia ou o poder por meio do qual o obstáculo é removido e a forma toma-se manifesta.
Examinemos o exemplo oferecido por Swami Prabhavananda e Christopher Isherwood em How to Know God (Como Conhecer Deus) (o Yoga Sutras, de Patanjali). Suponhamos que um escultor deseje criar na pedra uma estátua do Senhor Krishna. A idéia da estátua, a forma que o artista vê em sua imaginação, o impulso criativo e a imagem são inspirados por sattva. O mármore representa tamas, a solidez sem forma, o obstáculo que precisa ser superado.
Swami Prabhavananda afirma que se uma quantidade suficiente de rajas for gerada, o obstáculo de tamas será superado e a forma ideal concebida por sattva será criada no bloco de granito. Este exemplo de monstra que os três gunas são necessários para qualquer ação criativa. "Sattva, sozinho", ele diz, "seria apenas uma idéia não concretizada, rajas sem sattva seria uma mera energia não direcionada; rajas sem ta mas seria como uma alavanca sem um fulcro; e tamas sozinho seria a inércia."
Sattva é freqüentemente considerado como representando a pureza e a tranqüilidade; rajas se refere à ação, ao movimento e à violência; tamas é o princípio da solidez, da imobilidade, da resistência e da inércia. Os três gunas estão presentes em tudo, mas um deles sempre predomina. Sattva prevalece à luz do sol, rajas num vulcão em erupção e tamas num bloco de pedra.
Na nossa mente, os gunas se apresentam num relacionamento que muda com rapidez. Deste modo, experimentamos disposições de ânimo diferentes durante o dia. Se sattva predomina, podemos ter momentos de inspiração, de afeto desinteressado, de alegria tranqüila ou calma medi tativa. Sattva representa a pureza, a luz, a inteligência, o conhecimento, a satisfação, a clareza mental, a bondade, a compaixão e a cooperação. A calma e a paz prevalecem numa pessoa ou numa disposição de ânimo sattvica. As qualidades da pessoa na qual sattva predomina incluem a coragem, a integridade, a pureza, a capacidade de perdoar e a ausência da paixão, da raiva e do ciúme. Esta pessoa é calma e feliz. Quando sattva domina, a mente toma-se firme como a chama de uma lanterna num local onde não há vento. A mente equilibrada ajuda tanto a atividade quanto a meditação, e aquele que é predominantemente sattvico pode meditar com eficácia e é capaz de ter uma verdadeira concentração.
A pessoa com rajas dominante nunca fica em paz. Rajas provoca explosões de raiva e gera um desejo intenso. Ele toma a pessoa inquieta e descontente, e dá origem a uma contínua atividade. A pessoa com rajas dominante não consegue permanecer sentada, quieta; ela precisa ter sempre algo para fazer. A grande paixão é rajas, assim como a agressividade, a ganância e a raiva também o são. Ao mesmo tempo, rajas na sua expressão mais positiva, especialmente quando combinado com sattva, é responsável por uma atividade construtiva e criativa, pois gera energia, entusiasmo e coragem física.
A pessoa rajásica adora o poder e os objetos dos sentidos. Ela se apresenta em constante atividade e anseia sempre por mais poder para ser capaz de dominar os outros; ela também é muito apegada às coisas materiais. A manifestação direta do rajas dominante é a chama insaciável do desejo. Os desejos precisam ser satisfeitos, caso contrário a vida da pessoa toma-se deplorável! Quanto mais ela consegue satisfazer os desejos, mais ela quer. Ela sempre quer mais - um pouco mais, um pouco mais, um pouco mais... Ela conquista riqueza, poder, reputação e fama, mas nunca é suficiente.
Quando rajas é intenso, ele encobre o conhecimento e toma-se inimigo da sabedoria. Sob a pressão de rajas, o homem alimenta ganância, luxúria e raiva. Rajas ataca a pessoa através dos sentidos, da mente e do entendimento, iludindo a alma encarnada. Para que a pessoa tenha uma vida proveitosa e paz de espírito, rajas precisa ser apaziguado e equilibrado com sattva.
A pessoa dominada por tamas pode se parecer mais com um animal do que com um ser humano; sem poder fazer um julgamento claro, ela pode deixar de distinguir entre o certo e o errado. Como um animal, ela viverá para si mesma e poderá ferir os outros para satisfazer seus desejos. Na sua ignorância e cegueira, ela poderá praticar ações perversas.
Sattva adere à felicidade, rajas à ação, enquanto tamas, verdadeiramente encobrindo o conhecimento, adere à negligência.
BHAGAVAD-GITA (14:9).
-----------------------------------------
Texto extraído do livro
O SEGREDO DA SAÚDE E DA LONGEVIDADE
Dr. Krishan Chopra
Nenhum comentário:
Postar um comentário