PERGUNTA: Tenho assistido às recentes discussões matutinas. Quereis que deixemos completamente de pensar? E, se temos de pensar, como devemos pensar?
KRISHNAMURTI: Senhor, deixar completamente de pensar seria passar a um estado de amnésia, idiotia. Se não soubésseis onde morais, se não pudésseis lembrar-vos do caminho de vossa casa, isso seria indício de algum desarranjo, não?
Nós temos de pensar. Temos de pensar claramente, sãmente, com propósitos definidos, de maneira direta. A mente é o único instrumento que possuímos, e temos de pensar para aprendermos uma técnica que nos dará a possibilidade de obter um emprego e ganhar a vida. Mas, além desses limites, o nosso pensar se torna ambição, ganância, inveja, e sobre essas coisas está edificada a nossa sociedade. Na função educacional, estamos continuamente interessados em ajudar aqueles que estão recebendo instrução a adaptarem-se à sociedade. Nosso pensar, portanto, e o pensar da geração vindoura, só está interessado no ajustamento à sociedade, nesta sociedade baseada na avidez, na inveja, na aquisição. Mas a função da educação, sem dúvida, não é a de ajudar os jovens a adaptarem-se a esta sociedade corrupta, para que possam criar uma sociedade nova, um mundo diferente.
O pensar é essencial, mas quando a mente está toda ocupada pela avidez, pela inveja, pelo processo do “eu”, então o pensar é necessariamente corrupto, e qualquer sociedade baseada em tal pensar, degenerará, inevitavelmente. O pensar com que se cultiva o “eu” e que tem a forma de virtude, ajustamento, respeitabilidade, se torna um obstáculo ao descobrimento do que é real. Por essa razão se torna importante realizar-se uma revolução na mente, uma revolução religiosa; e esta só é possível quando vós e eu “não mais pertencemos” à sociedade. Mas isto não significa cingir uma tanga e quase não ter ou nem ter onde morar; significa, libertar-se, interior e totalmente, de toda ânsia de aquisição. Significa não ser ávido, não ser ambicioso, não aspirar ao poder – de modo que não exista mais um “eu” a querer ser alguma coisa, mundana ou espiritualmente. A única revolução é a revolução religiosa, que nada tem que ver com a igreja alguma, nenhuma organização, nem dogma, nem crença. E ela tem de realizar-se em cada um de nós, porque só então existirá a possibilidade de criarmos um mundo novo.
1 de fevereiro de 1956.
Livro: DA SOLIDÃO À PLENITUDE HUMANA (páginas 104, 105)
(Palestras realizadas na Índia, em Benares, Madrasta, Madanapale e Bombaim em 1955-1956)
Autor: J. Krishnamurti
Tradução: Hugo Veloso
Edição: Instituição Cultural KrishnamurtiPERGUNTA: Tenho assistido às recentes discussões matutinas. Quereis que deixemos completamente de pensar? E, se temos de pensar, como devemos pensar?
KRISHNAMURTI: Senhor, deixar completamente de pensar seria passar a um estado de amnésia, idiotia. Se não soubésseis onde morais, se não pudésseis lembrar-vos do caminho de vossa casa, isso seria indício de algum desarranjo, não? Nós temos de pensar. Temos de pensar claramente, sãmente, com propósitos definidos, de maneira direta. A mente é o único instrumento que possuímos, e temos de pensar para aprendermos uma técnica que nos dará a possibilidade de obter um emprego e ganhar a vida. Mas, além desses limites, o nosso pensar se torna ambição, ganância, inveja, e sobre essas coisas está edificada a nossa sociedade. Na função educacional, estamos continuamente interessados em ajudar aqueles que estão recebendo instrução a adaptarem-se à sociedade. Nosso pensar, portanto, e o pensar da geração vindoura, só está interessado no ajustamento à sociedade, nesta sociedade baseada na avidez, na inveja, na aquisição. Mas a função da educação, sem dúvida, não é a de ajudar os jovens a adaptarem-se a esta sociedade corrupta, para que possam criar uma sociedade nova, um mundo diferente.
O pensar é essencial, mas quando a mente está toda ocupada pela avidez, pela inveja, pelo processo do “eu”, então o pensar é necessariamente corrupto, e qualquer sociedade baseada em tal pensar, degenerará, inevitavelmente. O pensar com que se cultiva o “eu” e que tem a forma de virtude, ajustamento, respeitabilidade, se torna um obstáculo ao descobrimento do que é real. Por essa razão se torna importante realizar-se uma revolução na mente, uma revolução religiosa; e esta só é possível quando vós e eu “não mais pertencemos” à sociedade. Mas isto não significa cingir uma tanga e quase não ter ou nem ter onde morar; significa, libertar-se, interior e totalmente, de toda ânsia de aquisição. Significa não ser ávido, não ser ambicioso, não aspirar ao poder – de modo que não exista mais um “eu” a querer ser alguma coisa, mundana ou espiritualmente. A única revolução é a revolução religiosa, que nada tem que ver com a igreja alguma, nenhuma organização, nem dogma, nem crença. E ela tem de realizar-se em cada um de nós, porque só então existirá a possibilidade de criarmos um mundo novo.
1 de fevereiro de 1956.
Livro: DA SOLIDÃO À PLENITUDE HUMANA (páginas 104, 105)
(Palestras realizadas na Índia, em Benares, Madrasta, Madanapale e Bombaim em 1955-1956)
Autor: J. Krishnamurti
Tradução: Hugo Veloso
Edição: Instituição Cultural Krishnamurti
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