sábado, abril 13, 2013

RAMAYANA - THE EPIC


Trecho da Carta-Testamento de Ravana, após derrotado por Rama:

"Senhor Narayana, és a testemunha; fazes a Lua caminhar em resplendor e as estrelas se desvanecerem à luz do dia. 
    
Querido Rama, Senhor dos Mundos...pensa e recorda que prometeste a Indra matar-me para sempre... nada é para sempre, senão tu mesmo. Se não morresse por tua mão, de que outra maneira poderia eu fazer para me aceitares em teu próprio Eu?

Eu era apenas um rakshasa, e tu eras muito difícil de abordar. Entretanto, buscando a sabedoria, aprendi muita coisa. Não sabes de novo quem és. Eu o soube durante todo o tempo, mas mesmo assim não o sabes. Nada que fazes se malogra, basta um olhar dos teus olhos para que o povo torne a cantar as boas e velhas canções.

Não pedi proteção contra os homens. Vais a toda a parte e conheces todas as coisas que já foram feitas ou que o serão um dia. Por que fui tão descuidado? Eu não era descuidado em parte alguma! Óh Narayana, olha, eu olhei, maravilhei-me...Os Homens são minas, os homens são minas preciosas. Ó Rama, julgaste que o escuro era mau?

Vês tudo o que acontece e amparas todas as criaturas. Vi que o céu era impermanente, e que o próprio Inferno não perdurava. Descobri que o tempo de cada existência é apenas um dia cheio, e vi que todas as criaturas, separadas de ti, de quando em quando, renascem, sempre mudando. Não gosto das coisas que vêm e vão, e passam com o Tempo, e odeio o próprio Tempo. Adverti-o, quando nos encontramos pela primeira vez, que eu o tomava por inimigo, eu mesmo lhe disse isso.

Oh tu, que és o melhor dos homens, existem muitas espécies de Amor, e nunca as feri. Vali-me de Lakshmi a fim de atrair-te para cá. Ofereci-te minha vida, e tu a aceitaste.

És Narayana que se move sobre as águas. Fluis através de todos nós. És Rama e Sita nascida da Terra, e Ravana, o Rei dos Demônios; és Hanuman como o Vento, és Lakshamana como o espelho, és Indrajit e Indra, és o Poeta e os Atores e a Peça. E, nascido como homem, tu te esqueces disso, perdes a memória e enfrentas de novo a ignorância do homem, como a enfrentarás sempre.

Portanto, acolhe de volta, com amor, a tua Sita. A guerra acabou, e assim, fechamos a nossa carta."

Embora a carta como um todo seja de uma beleza que dispensa qualquer comentário, lembrar de alguns detalhes da obra ajuda a entendê-la. Ravana obteve de Brahma, como pedido, após 10.000 anos de ascetismo, não poder ser morto por Deuses ou Demônios, mas “se esqueceu” dos homens, o que foi considerado “um descuido”. Aqui, ele mostra claramente que não se esqueceu de nada. Deslumbrou-se com os homens, “minas preciosas”, e deu a eles a oportunidade da batalha, para que pudessem domar esse lado “diabólico”, destruidor, incorporando-o em seu próprio Eu. Por isso, rapta a princesa Sita, atraindo Rama para a batalha de seu resgate, que é também o resgate de si mesmo. Ravana reitera, na carta, que não poderia ser morto para sempre, pois “nada é para sempre, senão tu mesmo” . o aspecto divino que reside adormecido no ser humano. Ou seja, a batalha jamais cessa, e se renova a cada homem. 
(Contribuição: Prof. Lúcia Helena Galvão)

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