Por piedade em nome dos deuses, saiba que a coisa mais importante é esta: ter as opiniões corretas sobre eles - que eles existem, e que eles governam o universo bem e justamente - e que você concorda em obedecê-los, e aceitar tudo o que acontece, seguindo os eventos com uma mente livre, na crença de que eles estão preenchidos pela mais elevada das mentalidades. Porque assim você nunca irá culpar aos deuses, nem acusá-los de se esquecerem de você. Mas isto você não é capaz de alcançar, a menos que você aplique o seu conceito de bem e mal apenas naquelas coisas que se encontram debaixo do seu poder, e não naquelas que estão fora do seu poder. Porque se você vier a aplicar a sua noção de bem e mal a estas últimas (coisas), então, assim que você não conseguir obter aquilo que deseja ou em evitar aquilo que quer afastar, você certamente irá culpar e odiar aqueles que você considera responsáveis (pela situação). Cada criatura viva tem uma tendência natural para evitar e rejeitar aquilo que lhe parece nocivo e tudo que conduz a isto e em perseguir e admirar aquilo que é útil e tudo que conduz a isto. Portanto não é possível para aquele que pensa que está sendo prejudicado, sentir prazer naquilo que pensa ser o autor do dano, mais do que tomar prazer no próprio dano. Este é o porque do pai ser vilipendiado pelo filho, quando ele não dá ao seu filho uma porção daquilo que o filho considera ser boas coisas; assim Polycines e Eteocles desenvolveram uma inimizade mútua ao pensar que o trono de um rei era uma coisa boa. Este é o porquê do lavrador, do marinheiro, do mercador e todos aqueles que perdem esposa ou filho, acusam e vilipendiam os deuses. Porque a religião dos homens é mantida pelos seus interesses. Portanto, aquele que toma por preocupação o direcionamento correto da sua vontade em obter ou em evitar, está consequentemente fazendo da piedade a sua (mais importante) preocupação. Mas é apropriado, em cada ocasião oferecer libação (oferenda, geralmente na forma de vinho, p. ex. o "gole do santo") e sacrifício e oferecer os primeiros frutos de acordo com o costume dos nossos pais, com pureza e não numa maneira desmazelada e descuidada, sem avareza nem extravagância.
A Arte de Viver – Epiteto.
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