quarta-feira, julho 29, 2009

SENSIBILIDADE

Nunca nos escutamos. Só sabemos dizer: “Devo, não devo, isto é correto, isto é incorreto, isto é bom, isto é mau, devo adaptar-me a isso, devo fazer isto ou não quero fazer isto”. É só o que sabemos dizer. Nunca escutamos a nós mesmos – com zelo, com cuidado, de modo que cada coisa,cada detalhe seja revelado. E esse é o começo do autoconhecimento. Se não há autoconhecimento, não temos base para qualquer ação, porque então toda ação conduz à angústia, ao desespero.

Portanto, o homem que quer compreender o que é a verdade deve começar por si próprio, começar por conhecer a si próprio. Todas as complexidades, todas as alusões, sugestões, a feiura, a beleza, os murmúrios de cada pensamento e de cada coisa – tudo isso ele deve conhecer. Não deve ficar um só recesso inexplorado. Tudo tem de sair à luz; e sairá, se você escutar com cuidado. Eis porque você deve começar com esse zelo que lhe faz prestar atenção a tudo o que faz, à sua maneira de vestir, ao que diz, ao seu procedimento, à sua cortesia, à sua disposição para se ajustar, à maneira como fala aos seus empregados, se os tem, e como fala com o patrão. Você deve escutar com cuidado. E, a partir desse escutar, vem a sensibilidade, vem uma mente afinada, penetrante. Isso ocorre naturalmente; você não tem necessidade de afinar e aguçar a mente com conflito. Mas esse natural aguçar da mente, sem amargura, sem rudeza, só se verifica quando você começa a ser cuidadoso, a ser zeloso; e esse cuidado gera um estado de atenção no qual há o escutar. Então levado por essa onda, você é capaz de prosseguir com profundidade. Todas as religiões falharam. A religião nada tem nada a ver com crenças e dogmas; crença organizada é mera propaganda. Agora o que precisamos é não voltar ao passado, não reviver o passado. Não se pode reviver o que está morto; foi-se, acabou-se. Agora você tem que chegar vivo, totalmente vivo, para poder descobrir, por você mesmo, o que é a verdade. Você não tem líder, não tem guru, não tem instrutor. Você tem que descobrir a flor da bondade, a beleza que se expande, e aquela realidade que está além das palavras, além da medida do pensamento – você tem que descobrir isso por si mesmo.
(K - The Collected Works - vol XIV, pg 127; 09/02/1964)

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