domingo, junho 10, 2012

EMOÇÕES E SENTIMENTOS


Em meados de 2009, fazendo algumas leituras sobre meditação, lendo alguns livros (daqueles dos bons: Bhagavad-Guita – Sutras de Patanjali) que nos levam para além das palavras, me peguei questionando se emoções e sentimentos eram sinônimos, exatamente como fez a autora do texto "Emoções e Sentimentos" de Sílvia Schmidt. No entanto, não acredito que se deva tentar livrar-se de toda e qualquer emoção, pois conforme estudos atuais sobre psicopatia, que é um tipo de personalidade, não é uma doença. Um dos traços que distingue o indivíduo com essa personalidade é justamente a ausência de emoções.
Se observarmos um pouco mais, vamos constatar que a emoção segue um ciclo, tal qual uma descarga em nosso organismo com início, meio e fim. Acredito que devemos ser atentos a este ciclo especificamente, eis o grande desafio. Pois que se de alguma forma tentarmos bloquear este ciclo em algum momento de nossa vida essa descarga não processada e de certa forma acumulada, emergirá. Uma boa sugestão, para quem deseja um pouco mais, é ler a respeito do Sistema Límbico e sobre o hormônio Cortisol e todas as suas implicâncias em nosso organismo.
Além destes ótimos textos, encontrei outros trabalhos profundos associados a nomes relevantes de especialistas.
Resolvi então atualizar esta página para que leve ao leitor explorar um pouco mais do tema.
As vezes é preciso pegarmos as palavras como se fossem um novelo de lã emaranhado, e puxar fio por fio e verificarmos o que as ligam e tentarmos dar a elas um sentido mais exato a partir de uma investigação íntima do nosso interior. Coisas que certamente os sábios já percebiam.
Até que a ciência consiga ir mais além nestes estudos, acredito que devemos aprender com os sábios, através do autoconhecimento e meditação a lidar com aquelas emoções que são tidas como tóxicas e destrutivas, sem interromper seu ciclo.

                                                                                                                        Vera Boff 

Emoções e Sentimentos


Você pensa que emoções e sentimentos são sinônimos?
Há um bom tempo eu pensava que eles fossem a mesma coisa com nomes diferentes.
Então, sem nenhuma pretensão que não a de buscar as possíveis diferenças, comecei a prestar mais atenção nisso.
Observei que certas sensações eram boas em determinadas passagens e outras não eram, provocando um profundo incômodo no peito, um peso na cabeça, uma "carga" que passava do meu "limite de transporte".

Fui mais fundo e finalmente descobri que as emoções é que têm esse peso excessivo e que os sentimentos não pesam.
Ao contrário, eles são de uma leveza tal, que podem levar-nos a um estado de êxtase, que nos abre o peito num longo suspiro, trazendo alívio às nossas tensões.

Se você quiser também sentir essa diferença, observe:
- quando é Amor o que você sente - não importa por quem ou pelo quê - a sensação é tão agradável, que você não sente o mínimo desejo de se livrar dela.
O Amor é sentimento. Sentimento faz bem.

- quando é ódio, você pode notar que é como se o seu peito se fechasse, o ar parece ser insuficiente para sua oxigenação.
A respiração fica ofegante e curta.
É uma sensação horrível.
O ódio é emoção. Emoção faz mal.

É comum confundirmos pessoas sentimentais com pessoas emotivas e pensamos que é a mesma coisa, mas não é:
a pessoa sentimental não sofre, mas a emotiva sim.
Emocionar-se é "doer-se".
Emoção é ruído. Sentimento é silêncio.

Certa vez um amigo me disse:
"Já pensou se todas as pessoas do mundo ficassem apaixonadas ao mesmo tempo?
O mundo viraria um caos, pois a paixão nos torna cegos para a ordem e para a organização inteligente das coisas".

Ele estava certo.
A paixão é emoção e, só por isso, faz tanto estardalhaço, tanto estrago no continuar das coisas.
Há quem mate "em nome do Amor", mas há um engano: a paixão pode fazer matar, mas o Amor não.

Há um incontável número de coisas que sentimos e que são confundidas, ora com sentimento, ora com emoção.

São emoções: o já citado ódio, a inveja, o ciúme, a sede de vingança, o desejo de punir, o ressentimento, a culpa, a mágoa, a raiva, o fanatismo de qualquer natureza, e por aí a fora.

Você notou como tudo isso é denso, pesado, sufocante?

As emoções nos prendem, os sentimentos nos libertam.

Não há necessidade de eu listar o que são sentimentos, pois você - com certeza - já percebeu que eles são exatamente tudo que é o oposto dos listados acima.

Faça você mesmo uma lista dos opostos e depois note quanto bem-estar você sente ao evocá-los. Não é só uma sensação de bem-estar espiritual, mas físico também. Você sente seu corpo mais leve. Dê-se o prazer de sentir essa diferença.

Se este monólogo relativamente longo cansou você, esse é um sinal de que você vive mais pelas emoções. Se você parou um pouco e se deixou absorver, é o bom sinal de que você vive mais pelos sentimentos.
Sabe o que faz a diferença neste caso?
Quem vive de emoções é ansioso e apressado, mas quem vive de sentimentos já sabe - intuitivamente - que a pressa lhe rouba o prazer de viver por inteiro cada pedacinho de cada momento.

É no clamor das emoções que se fazem as guerras.
É no calor dos sentimentos que se faz a Paz.


Dia chegará em que nos libertaremos das garras das emoções e, a partir desse dia, voaremos livres nos Céus dos Sentimentos.
Que assim seja! Nós merecemos! Assim será!

"Não confunda os sentimentalistas com os sentimentais: os sentimentalistas berram, os sentimentais sussurram."
                                                                                         :: S í l v i a S c h m i d t ::

                 Abaixo seguem alguns trechos do Bhagavad-Gita:

Os contatos dos sentidos com os objetos dos sentidos causam os sentimentos de calor e frio, dor e prazer. Eles são transitórios e impermanentes. Portanto, deve-se carregá-los corajosamente. (2.14)
Aquele que abandona todos os desejos materiais torna-se livre da saudade dos sentimentos de “eu” e “meu”, alcançando a paz. (2.71)
Devemos seguir estes oito passos, um por um, sob própria guia, para progredirmos na meditação. O uso da respiração, e das técnicas de concentração, sem a necessária purificação da mente, e sem a sublimação dos sentimentos e desejos pela conduta moral e prática espiritual (veja 16.23), poderá conduzir ao danoso estado neurótico da mente.
...por intermédio de atividades da mente, sentidos, respiração e emoções – que  o poder de Deus está dentro de Você o tempo todo, e está constantemente realizando todo o trabalho, usando você como um mero instrumento.
Do mesmo modo como um corpo existe no espaço, similarmente, nossos pensamentos, intelecto, emoções, e psique, existem no Ser, o espaço da consciência. ” (Bhagavad-Gita)
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"As doutrinas da Teosofia não pedem pela  destruição de todos os sentimentos no coração humano, nem levam a essa ruptura.  Na verdade, isso é impossível – alguém pensaria –,  já que os sentimentos são parte integrante da constituição do ser humano, e porque no princípio chamado Kama [2] – os desejos e sentimentos – nós temos a base de todas as nossas emoções; se ele for cortado prematuramente de qualquer ser pode ocorrer a morte ou algo ainda pior.  É verdade, sem dúvida, que a teosofia, assim como todos os sistemas éticos, exige que um ser dotado de consciência e vontade, como o homem, controle seu princípio Kama e não seja carregado por ele nem fique sob a influência das suas oscilações.  Isto é auto-controle, é o domínio do corpo humano, é a firmeza diante do sofrimento, mas não é a eliminação dos sentimentos que se deve controlar.  Se há algum livro teosófico que trata bem desse assunto, esse livro é o “Bagavad Gita”, e nele Krishna está constantemente demonstrando a doutrina de que todas as emoções devem ser controladas, que não devemos apegar-nos à dor pelo que é inevitável – como a morte – nem ficar demasiado contentes com o sucesso, nem desanimar com o fracasso, mas manter um estado de espírito constante diante de cada situação, seja ela qual for, ficando satisfeito e seguro de que as qualidades circulam no corpo em sua própria esfera. Krishna não diz, em lugar algum, que devemos  tentar eliminar do nosso ser interior alguma das suas partes integrantes."
(William Q. Judge)



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Sentimentos, de forma genérica, são informações que seres biológicos são capazes de sentir nas situações que vivenciam. Por exemplo, medo é uma informação de que há risco, ameaça ou perigo direto para o próprio ser ou para interesses correlatos.
empatia é informação sobre os sentimentos dos outros. Esta informação não resulta necessariamente na mesma reação entre os receptores, mas varia, dependendo da competência em lidar com a situação, e como isso se relaciona com experiências passadas e outros fatores.
sistema límbico é a parte do cérebro que processa os sentimentos e emoções. A medicinabiologia,filosofia e a psicologia estudam o sentimento humano.
Emoção, numa definição mais geral, é um impulso neural que move um organismo para a ação. A emoção se diferencia do sentimento, porque, conforme observado, é um estado neuro psicofisiológico (Freitas-Magalhães, 2007).[1]
O sentimento, por outro lado, é a emoção filtrada através dos centros cognitivos do cérebro, especificamente o lobo frontal, produzindo uma mudança fisiológica em acréscimo à mudança psicofisiológica. Daniel Goleman, em seu livro Inteligência Emocional, discute esta diferenciação por extenso.
Abraham Maslow, professor de Harvard, comentou que todos os seres humanos nascem com um senso inato de valores pessoais positivos e negativos. Somos atraídos por valores pessoais positivos tais como justiça, honestidade, verdade, beleza, humor, vigor, poder (mas não poder abusivo), ordem (mas não preciosismo ou perfeccionismo), inteligência (mas não convencimento ou arrogância). Da mesma forma, somos repelidos por injustiça, morbidez, feiura, fraqueza, falsidade, engano, caos etc.
Maslow também declara que valores pessoais positivos são definíveis somente em termos de todos os outros valores pessoais positivos - em outras palavras, não podemos maximizar qualquer virtude e deixar que ela contenha quaisquer valores pessoais negativos sem repulsa.
Por exemplo, a beleza que está associada com o engano se torna repulsiva. A justiça associada com a crueldade é repulsiva. Esta capacidade inata de sentir atração ou repulsão é o fundamento da moralidade - em outras palavras, sentimentos bem entendidos formam a capacidade interior com a qual nascemos para chegar ao que pensamos ser bom/mau e certo/errado.
Este ponto de vista contrasta agudamente com alguns ensinamentos extremistas de algumas religiões e ideais políticos, que querem estabelecer o que é moral - que os humanos nascem num vácuo moral e que é somente a autoridade quem pode dizer aos seres humanos o que é certo e errado. A exploração extremista dos sentimentos aumenta na medida em que os sentimentos não são apenas distinguidos, mas mesmo separados do pensamento crítico.
Algumas religiões, entretanto (algumas correntes atuais do (cristianismo), acreditam que o ser humano nasce com princípios morais a ele inatos, e nele colocados por Deus. E que a "imagem e semelhança" ao Deus criador, citada no livro de Gênesis da Bíblia cristã, se referiria na verdade à imagem e semelhança moral a esse Deus criador, e não à aparência física do Deus cristão. Chegando a uma conclusão próxima à de Abraham Maslow, porém não científica.

Abraham Maslow, foi um psicólogo americano, conhecido pela proposta hierarquia de necessidades de Maslow. Trabalhou no MIT, fundando o centro de pesquisa National Laboratories for Group Dynamics. A pesquisa mais famosa foi realizada em 1946, em Connecticut, numa área de conflitos entre as comunidades negra e judaica. Aqui, ele concluiu que reunir grupos de pessoas era uma das melhores formas de expor as áreas de conflito. Estes grupos, denominados T-groups (o «T» significa training, ou seja, formação), tinham como teoria subjacente o facto de os padrões comportamentais terem que ser «descongelados» antes de serem alterados e depois «congelados» novamente — os T-groups eram uma forma de fazer com que isto acontecesse.

Disposição mental


Atualmente o termo sentimento é também muito usado para designar uma disposição mental, ou de propósito, de uma pessoa para outra ou para algo. Os sentimentos assim, seriam ações decorrentes de decisões tomadas por uma pessoa.
Por exemplo, o amor não é o conjunto de emoções (sensações corporais) que a pessoa sente por outra ou algo, mas o ato de sempre decidir pelo bem ou a favor de outrem ou algo, independente das circunstâncias. As sensações físicas sentidas surgem como consequência da decisão de amar. Este sentimento é chamado por muitos estudiosos como ágape, ou amor ágape. Já as sensações que a atração física que uma pessoa sente por outra produzem em alguém, não podem ser chamadas de amor, ou de algum tipo de sentimento, mas apenas emoções (sensações corporais), consequentes do instinto que levou essa pessoa a sentir atração física pela outra.
Nesta concepção, um sentimento é uma decisão (disposição mental) que alguém toma em sua mente, ou alma, ou espírito, a respeito de outrem ou algo. Por este conceito, toda e qualquer palavra que denota emoções quando usada, pode ser classificada como sentimento quando se refere a algo que podemos ou não escolher fazer (se é um ato pode-se cometê-lo ou não, não é um instinto fora do controle da consciência) ou seja, que possua uma forma verbal. Exemplos:
  • Amor - Amar (pode-se ou não cometer o ato de amar, a si mesmo, a outrem ou a algo);
  • Ódio - Odiar (pode-se ou não cometer o ato de odiar, a si mesmo, a outrem ou a algo);
  • Alegria - Alegrar (pode-se ou não cometer o ato de alegrar, a si mesmo, a outrem ou a algo);
  • Tristeza - Entristecer (pode-se ou não cometer o ato de entristecer, a si mesmo, a outrem ou a algo); e outros...
Estes sentimentos (estas decisões ou disposições mentais) porém, vão promover emoções no corpo que, estas sim, serão sentidas. Por isso, uma pessoa que ama outra, por haver tomado essa decisão de amar essa outra, mesmo depois de sofrer algum mal cometido pela pessoa amada, pode continuar amando-a, muitas vezes sem entender como pode amar ao mesmo tempo que sente a emoção característica do momento da ira, ou da dor da traição, ou alguma outra emoção que, racionalmente, poderia conduzir a pessoa que ama a querer deixar de amar.
Um problema que pode confundir o entendimento nesta concepção do que é sentimento, é o fato de que, geralmente, os nomes usados pra se referir a um sentimento, também são os mesmos usados pra se referir às emoções mais características destes mesmos sentimentos..
Referências:
Roderick Hindery. Critical Thought and Feeling (Capítulo 6);Indoctrination and Self-deception or Free and Critical Thought?, Mellen Press, 2006;(em inglêsPropaganda vs. Critical Thought

Um comentário:

  1. aies isso me ajudo mt no meu trabalho d filosofia sobre a diferença entre sentimento e emoção e eu entendi direitinho mt obrigada.:D

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