“... a teosofia não é conceitual. A sabedoria não é feita de palavras.
Ela apenas utiliza conceitos e palavras. Ela é feita de percepção direta e sem intermediação.
As palavras são só instrumentos importantes, que devem ser usados com respeito, clareza e responsabilidade; e que, quando são bem usados, ajudam a alcançar a sabedoria.”
Ao amanhecer, já por volta das 6 horas da manhã, meu pensamento era estabelecer as diferenças entre o Debate e o Estudo. Dentro de mim eu já percebia a totalidade da diferença, através de um sentimento profundo, porém necessitava agora transcrever em palavras. Certamente isto já ocorreu com você e com muitas pessoas! Quanto mais eu buscasse as palavras mais e mais o Sentir se fazia maior e por alguns instantes quase desisti de tentar achar as palavras para expressar esse quase desconforto. Percebi que milhares de informações surgiam rapidamente para dar argumentação necessária às diferenças entre o Debate e o Estudo. No entanto, meu cérebro foi incapaz de capturar a todas, enquanto o Sentir era uma constante e se fazia maior. Decidi então, mesmo reconhecendo minhas limitações, tentar expressar este estado de Sentir. . . . . . . . Na proposta Teosófica, o Estudo progressivo e de auto-observação nos eleva a um estado mental silencioso, atento e íntimo, acima das palavras. Quem Estuda, sonda gradativamente além dos significados literais. “... a teosofia não é conceitual. A sabedoria não é feita de palavras. Ela apenas utiliza conceitos e palavras. Ela é feita de percepção direta e sem intermediação. As palavras são só instrumentos importantes, que devem ser usados com respeito, clareza e responsabilidade; e que, quando são bem usados, ajudam a alcançar a sabedoria.” A postura de quem Estuda é franca, sincera, desarmada, compassiva e respeitosa. O Estudo solitário é um estado despojado de qualquer obstrução ou contraponto crítico. Não há o medo de errar, ou obrigação de acertar, pois o Estudo deve ser para o Estudante tal como o estado puro de uma criança que se entrega ao seu imaginário lúdico o qual interage com seu Eu através dos objetos (brinquedos) no lugar das palavras literais. Não há confronto, apenas entrega!
“Só herdará o reino dos céus quem tiver o coração puro como o de uma criança” Neste processo não há qualquer maré que nos lance de um lado para outro de uma correnteza agitada causando a dispersão do nosso foco ou sofrimentos, mesmo que momentâneos, advindos das emoções inferiores do Ego que nos liga ao mundo. Quem estuda se entrega a si mesmo, ao seu Eu Superior, sonda os mais profundos sentimentos sem agredir ou desrespeitar a sua própria memória ou a memória de qualquer outro Ser. Segue uma viagem profunda para dentro de si mesmo e questiona o seu universo íntimo. No Estudo, através das palavras meramente literais vamos penetrando em vestíbulos mais e mais estreitos até chegarmos em uma espécie de síntese onde as palavras simplesmente desaparecem, e tudo o que há é um mar de informações que surgem em um estado de apenas Sentir. Se pudêssemos transcrever isto em palavras faríamos da seguinte maneira: Como se caíssem de um plano acima, pétala por pétala de uma flor de lótus invisível (o Eu ainda não sabe definir o que é, apenas sente). Ao afetar, tocar nossos sentidos, inicial e gradativamente é apenas como um perfume no ar, depois o perfume se transforma em raios coloridos e finalmente ganha forma e as informações (perfume, luz, cor e forma) vão se estabelecendo gradualmente. A flor toda, antes como um quebra-cabeças, em pedacinhos fragmentados, agora tem forma completa e cada pétala se encaixa perfeitamente no seu todo estrutural, conquistando o seu devido lugar. Suas mil pétalas, agora são percebidas no alto de nossa cabeça, elas se abrem para cima lenta e gradualmente e nos coroam como se coroa a um rei. A flor de lótus tem significados simbólicos, entretanto, a botânica ainda procura saber por que suas folhas são autolimpantes e repelem a poeira e micro-organismos. A flor de lótus se ergue pura acima do lodo.
Este estado de consciência não chega a ser um estaze, tão pouco um samadhi, mas é seguramente um estado de felicidade e de conforto. Bem, até aqui podemos dizer que quem Estuda Teosofia pode fazê-lo de forma solitária ou em grupos, porém o trabalho é individual, intransferível, o seu processo de aprendizado vai além das salas de aulas, virtuais ou reais. As informações significativas já internalizadas vão se organizando com novas informações que vão dar maior suporte às preexistentes. Construímos assim gradativamente como que um fio, ou um elo que se fortalece a cada momento em que nos propomos a sondar além das palavras. Através desta prática, a ligação entre o ser que manifestamos no mundo, e o nosso ser mais íntimo vão ficando cada vez mais próximos, e a dualidade do que é espiritual e material em nós e que gera todos os nossos conflitos diários vão se harmonizando, lenta e gradualmente. Este exercício diário, mesmo que por apenas 1 hora, deverá ao longo de algum tempo, nos dotar da capacidade de o fazê-lo nas operações mais simples do nosso dia a dia e a isto Jiddu Krishnamurti chamava de auto observação constante, do que pensamos, dos nossos desejos vindos do nosso quaternário inferior ou do nosso Ego animal, afim de verificar suas reais necessidades, tais como, por exemplo, da nossa alimentação (fome do quê?), vestuário (frio/calor), e diferenciá-las do campo meramente automático do consumo (do eu quero porque quero). Tornando assim até mesmo nossos relacionamentos menos agressivos ou traumáticos com aqueles mais próximos de nós na rotina da tarefas do dia a dia. Nosso posicionamento muda diante de qualquer confronto de opiniões, pois aprenderemos a reconhecer e a trabalhar com o pressuposto dos outros dentro das condições de consciências que lhes são próprias e referentes aos mais variados estágios. Neste aspecto vamos conseguindo lançar um olhar de fora de nós mesmos para a nossa dualidade e atender às suas necessidades de forma consciente e harmoniosa. Ninguém precisa matar ou maltratar
seu Ego, precisamos dele para conquistarmos nosso despertar! Ele é fundamental para a nossa existência no mundo material. Bem, até aqui falamos do Estudo Teosófico ou Esotérico, agora o que seria um Debate Teosófico ou Esotérico? Quem já tem um referencial Teosófico necessita do debate para dar sustentação aos argumentos de outra pessoa que sequer tenha feito esforço mínimo na direção da compreensão da proposta Teosófica? Como podemos tentar manter um diálogo equilibrado nestas circunstâncias? Quando um Debate se estabelece, duas ou mais pessoas apenas se deixam levar pelas marés que as jogam de um lado para outro, cada uma quer ter a razão e mesmo que uma delas tenha mais conhecimentos, aquele que mais sabe também é o que erra mais! Seu corpo emocional reage bruscamente e a energia é desperdiçada, sua vitalidade tende a baixar, e travamos não apenas um Debate de ideias mas nos precipitamos a um Embate como se o outro fosse nosso inimigo. Nosso Ego vem à tona como um urso feroz e lança na direção do outro fluídos deletérios que acabam por nos ferir. Há quem goste de apreciar tais confrontos e sem suspeitar também reagem mesmo que silenciosamente na psico esfera mental daqueles que lidam apenas com as palavras escritas ou proferidas verbalmente. Em nosso corpo físico, nossos hormônios disparam, o Cortisol se desequilibra e podemos estar a beira de um infarto. Já não somos mais donos do nosso emocional, o controle é perdido depois que permitimos que o processo se estabeleça. Para cada argumento solicitado (drama de controle), vamos nos afastando da nossa parte inteligente e acabamos até por ofender, desrespeitar as memórias daqueles que mais estimamos. O verbo se torna uma lança na direção do mental do outro. As palavras se tornam duras e já não servem de ponte para transcender em sabedoria. Inúmeras formas mentais são criadas e a maré do fluxo e refluxo mentais tornam as correntes mais e mais violentas. Em geral após um embate destes, nosso corpo físico fica dolorido e
naqueles pontos onde a nossa energia já era um pouco mais baixa acaba por enrijecer e sentimos na carne os efeitos das nossas marés somadas pelo bombardeio mental do nosso oponente. O assédio do público que embora silencioso, contribui para transformar o que deveria ser uma egrégora de luz em uma arena da Roma antiga. Colocamos nosso ego animal em luta ferrenha contra aqueles que da mesma forma procedem. Seria isto também uma forma de magia negra? Não encontraremos nesta situação qualquer aspecto benéfico ou construtivo pois já não estamos olhando na direção do nosso íntimo em busca do fio que nos ligará ao TODO. Nossa flor de lótus de fecha e cortamos qualquer possibilidade de exercitar corretamente os aspectos que nos alinhariam ao encontro da sabedoria e jogamos nossas energias para fora do nosso sistema biológico, mental e espiritual, enfraquecendo e comprometendo nosso sistema nervoso, concomitantemente todo nosso campo de energia (aura), fica permeável e vulnerável a qualquer ataque psíquico ou doença oportunista. Auto-observação e discernimento, atenção às marés que movem a ação dos outros, usar o pressuposto do outro para evitar o confronto desnecessário, são algumas sugestões que poderíamos utilizar quando nossa mente está atenta! Um verdadeiro buscador da sabedoria já não pode mais se permitir cair nas teias da ignorância, tão pouco participar, mesmo que indiretamente, da arena dos confrontos.
Que a nossa luz esteja sempre a frente iluminando as nossas decisões para que a nossa ação seja justa e seu reflexo possa contribuir para nosso desenvolvimento individual, reforçando o Coletivo. Paz para todos!
Vera Boff (23/05/2012)
Nenhum comentário:
Postar um comentário