Paga-se mal a um mestre, quando se continua sempre a ser o aluno.
(Friedrich Nietzsche, Ecce Homo, Prólogo, parágrafo 4)
Há um ditado Zen de imenso valor que diz: “Se você encontrar o Buda no caminho, mate o Buda”. Mas Buda está morto há 25 séculos! Onde você vai encontrá-lo, e de que maneira? E como você pode matar alguém que já está morto há 25 séculos?
É um sentido totalmente diferente: Esta é uma mensagem para o discípulo que ama Buda, que o ama tanto que existe a possibilidade de que Buda se torne sua última barreira – porque ele ama, porque ele é um discípulo, porque ele medita e penetra cada vez mais dentro do seu ser, ele se sentirá cada vez mais grato a Buda. E, no último momento, o Mestre deve ser deixado para trás… no último momento. Bem no fim você deve dizer adeus ao Mestre também. Lembrem-se de que isto é uma coisa interior, e não tem nada a ver com o exterior. Quando quase todos os pensamentos desaparecerem, e só um restar: o do seu Mestre.
E muito difícil dizer adeus. Você deve tanto para o Mestre – ele tem sido sua fonte, sua transformação; Ele tem sido sua nutrição, sua vida; Ele trouxe você ao longo de todo o caminho. E agora dizer adeus para a pessoa que tem sido seu guia, seu amigo? Dizer que adeus para aquele que tem sido um companheiro constante na noite escura da alma; Justo quando o amanhecer está vindo, devo dizer adeus para ele? Parece impossível! E o discípulo, no último instante, começa a se agarrar à idéia do seu Mestre.
Mas isso se torna uma barreira. O próprio Mestre dará ele mesmo um empurrão, e se você não atentar para o empurrão, então ele lhe dará um pontapé na bunda! – Porque você tem que ir, você tem que entrar no desconhecido.
O Mestre mesmo diz – eu digo a você – “Se você me encontrar no caminho, mate-me!” Mas o que significa isso? Você não me encontrará na Rua M.G.! Se você for pra dentro de si mesmo, na última esquina estarei esperando por você.
E será difícil dizer adeus, sempre têm sido difícil dizer adeus. Daí o ditado dizer apenas para matar o mestre; Não há necessidade nem de dizer adeus; Mate o Mestre, para que não haja necessidade de olhar para trás; Mate o Mestre, para que você agora possa estar totalmente só, com nem mesmo a sombra do Mestre com você. E isto é feito em grande agradecimento, em grande gratidão.
Primeiro se torne um discípulo, comece a mover-ve pra dentro de si, e só então poderá me encontrar. Você não me encontrou nem exteriormente, como pode você interiormente me encontrar? Você já não chegou nem perto de mim, como pode estar num estado de se apegar a mim? Você está longe, distante, você está evitando. Você não disse nem bom-dia, então, qual o problema de dizer adeus?
Primeiro se torne um discípulo. Mova-se pro seu interior, deixe-me ajudá-lo até a última etapa, e então certamente, se você me encontrar no seu caminho interior, mate-me.
Mas acontece que as pessoas só entendem de acordo com suas próprias idéias. Você não entendeu este koan Zen. Lembre-se novamente, não é que o discípulo mate o Mestre em raiva. Ele o mata em gratidão. Na verdade, ele o mata porque o Mestre o ordena a isso; Ele simplesmente segue a ordem – chorando, lamentando, com lágrimas em seus olhos. E mesmo quando ele foi morto, a gratidão permanece.
Os Mestres que estavam dizendo a seus discípulos “se você encontrar o Buda no caminho, mate-o” estavam adorando Buda todo dia, manhã, tarde, noite. Eles estavam se prostrando ante Buda. E muitas vezes devem ter sido inquiridos pelos discípulos: “Senhor, você diz se você encontrar o Buda no caminho, mate-o; Então, por que você o adora?” E ele diria: “Porque ele é o único mestre no mundo… Buda é o único mestre no mundo que ajuda você a livrar-se dele também, daí a gratidão”.
Você não entendeu a frase. Estas frases têm um significado muito diferente do que parece. Para entendê-las, você terá que se tornar um pouco adulto. Até onde estas frases alcançam, você é como uma criança.
Se você me encontrar no caminho, mate-me. Mas primeiro, por favor, esteja no caminho – onde estarei esperando por você, para ser morto por você. Mas você não sabe de uma coisa que nunca é dita. Esta frase é só metade disto; A outra metade – a primeira metade – está faltando. Antes de você poder me matar, eu matarei você. É como você entrará no caminho!
Osho; The Guest
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