De acordo com as definições a respeito do assunto, “o livre-arbítrio é a possibilidade de escolha através da vontade humana”. Entretanto, aprofundando um pouco mais, verificamos que ainda estamos longe de trabalhar apenas com a vontade, pois na maioria das vezes trabalhamos e fazemos nossas escolhas através dos nossos desejos (através do nosso quaternário inferior) e incluímos aqui todos os graus em que é possível trabalharmos esta possibilidade, conforme as variadas implicações, ou seja: religiosas, morais, psicológicas e filosóficas, sendo que em todos estes aspectos, invariavelmente, estão historicamente recheados pelo nosso egoísmo.
Vontade e desejo são aspectos distintos no ser humano, e estão diretamente relacionados com o nosso livre-arbítrio.
Basicamente o livre-arbítrio nos dá uma falsa sensação de liberdade de escolhas quando na verdade estamos apenas fazendo uma experiência, um ensaio necessário para mais tarde abdicarmos de qualquer possibilidade de seu uso, pois ainda estamos experimentando o certo e o errado, o bem e o mal, as sombras e a luz e todas as polaridades que falam de uma única coisa em pólos opostos.
Conforme dizia Helena Blavatsky, estamos vivendo “uma maldita transição”.
“1. A Vontade e o Desejo.
Helena P. Blavatsky
A vontade é uma posse exclusiva do ser humano neste nosso plano de existência. Ela o distingue do animal, no qual só o desejo instintivo está desperto.
O Desejo, no seu sentido mais amplo, é a força criativa única do Universo. Neste sentido, não há diferença entre ele e a Vontade; mas nós, seres humanos, nunca conhecemos esta forma de Desejo enquanto somos apenas humanos. Portanto, a Vontade e o Desejo são considerados aqui como conceitos opostos.
Assim, a Vontade é fruto do que é Divino, do Deus no ser humano; o Desejo é a força que movimenta a vida animal.
A maior parte dos humanos vive no desejo e através do desejo, confundindo-o com a vontade. Mas aquele que quiser vencer deve separar a vontade do desejo, e fazer com que sua vontade predomine; porque o desejo é instável e muda o tempo todo, enquanto a vontade é firme e constante.
Tanto a vontade como o desejo são absolutamente criadores, e formam o ser humano e também o ambiente ao seu redor. Mas a vontade cria de modo inteligente, e o desejo cria de modo cego e inconsciente. O homem, portanto, faz a si mesmo à imagem dos seus desejos, a menos que ele crie a si mesmo segundo o modelo do que é Divino, através da sua vontade, que é um produto da luz.
A tarefa do ser humano é dupla: despertar a vontade, para fortalecê-la pelo uso e pela vitória, torná-la capaz de governar com poder absoluto em seu corpo; e, ao mesmo tempo, purificar o desejo.
O conhecimento e a vontade são os instrumentos para obter esta purificação.
Texto publicado pela primeira vez em outubro de 1887. Traduzido de “Collected Writings”,H. P.Blavatsky, T.P.H., Adyar, India, volume X, p. 109.
2. As 22 Regras Herméticas Sobre Vontade.
The Theosophical Movement
Queira e Tenha.
I - Na ordem da sabedoria eterna,a vida tem como meta, com seus inúmeros testes, promover o treinamento da Vontade. Não querer e não agir é tão fatal para o homem quanto fazer o mal.Como um deus, o homem deve trabalhar o tempo todo.
II - Nas diferentes etapas da vida, é através da Vontade que a inteligência prefere mostrar-se. A Vontade é sagrada, se a percepção é justa.
III - Afirmar aquilo que é verdadeiro, e querer o que é justo, é criar. Afirmar e querer o contrário, é destruir.
IV - Quando o homem descobriu a Verdade e quer produzir Justiça,nada pode resistir a ele.
V - Para saber se um homem é, ou tem sido feliz ou infeliz, descubra em que direção está voltada a sua vontade.
VI - Uma corrente de flores é muito mais difícil de romper do que uma corrente de aço.”
Seguindo, entretanto, no que refere-se ao livre arbítrio, a LEI UNIVERSAL ainda nos concede a possibilidade do ERRO, ou seja de escolhermos acertar ou errar, escolhemos entre o bem e o mal, entre a luz e as sombras, entre o veneno e inocuidade, e a isto chamamos de experiência.
Estamos experimentando o bem e o mal, e faz apenas 2000 anos, (nem estou somando aqui os milhares de anos em que vivianos personificados na raça Atlantes) e há quem diga com ares de indignação que este tal do livre-arbítrio não é total, ou seja, algumas pessoas ainda não se sentem totalmente confortáveis em viver a experiência do livre arbítrio e parecem até revoltarem-se por sentirem que tal experiência é ainda limitada já que as consciências não estão totalmente despertas, e parecem supor que a culpa seja do próprio Universo e de suas LEIS.
Fico me perguntando se fosse o livre-arbítrio realmente uma possibilidade permanente e ilimitada, certamente nossa sociedade estaria repleta de indivíduos com o mesmo estado de ser (comportamental) de Caligola. Não obstante, ao que se refere atualmente para o estado de ser análogo ao de Caligola, é definida como personalidade Psicopata, atualmente estudada no campo da Psicologia e também no Direito Civil, visto que tal comportamento quando evidenciado em crimes bárbaros/hediondos, não advém de nenhuma patologia física ou psíquica, é apenas um modo de ser, ou seja, é mais uma personalidade.
O livre-arbítrio até hoje nos concedeu a possibilidade de provar do bem e do mal e saborear a diferença. No momento em que nossa escolha é feita assumimos compulsoriamente a responsabilidade desta escolha.
Porém nos acostumamos a pensar que esta condição é fixa/permanente e que podemos perpetuá-la indefinidamente, o que é um grande equívoco.
Quem já provou do bem e do mal e sabe bem a diferença, não pode ou não deveria mais ERRAR! Ou pelo menos deveria errar bem menos, tendo em vista que ainda somos imprecisos e incompletos em nossa tríade superior.
O livre-arbítrio é portanto uma condição transitória para a humanidade, até que esta adquira tal capacidade onde não necessitará fazer escolhas, pois só haverá a possibilidade natural de fazerem (digamos) a coisa CERTA e sem nos sentirmos em nada incomodados! É por este motivo que os seres que já ultrapassaram as fronteiras entre a vontade e desejo, do bem e o mal, não recolhem mais Karma, pois quando passamos da condição de estarmos fora da Lei (mesmo que mergulhados nela até o pescoço) e passamos para a condição de vivermos dentro dela, confortavelmente, e para ELA, então estaremos livres do livre arbítrio, até porque já não dependeremos de um corpo físico ou melhor dizendo, do complexo quaternário inferior humano, tão pouco de um mundo físico, onde há a obrigatoriedade permanente de luz e sombra (bem e mal).
Não somente o livre arbítrio é uma condição transitória como o próprio karma (Ação e Reação), que nada mais é do que o resultado de toda e qualquer ação ou até mesmo da inação, benéfica ou má, pois é uma característica inerente ao mundo manifestado (mundo físico).
Cabe a cada um de nós, através em um trabalho consciente e por esforços individuais e intransferíveis, assumirmos definitivamente a responsabilidade pelos nossos sucessos ou fracasso. Pois ainda estamos sob a condicionante do livre-arbítrio. Caso contrário, estaremos sempre a perpetuar uma eterna viagem de encarnações em encarnações neste ou em outros planetas de forma inconsciente, adormecida.
Não é o fato de encarnar e voltar a encarnar que torna o processo penoso, mas sim de ir e vir de forma inconsciente, sem conquistarmos sequer a nossa própria luz interior, sem reconhecer a origem divina em nós!
Deixo aqui a certeza de que tudo quanto por UM seja alcançado repercutirá no TODO, por simples vibração e atração ao bem COLETIVO, pois que o AMOR é por natureza contagiante, porém para senti-lo é preciso que cada um afine seu instrumento, pois na sinfonia do Universo já não devemos mais desafinar.
(Vera Boff – 18/05/2012)
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