sábado, dezembro 12, 2009

Refugiados ambientais



Castigada pelo aquecimento global, a população de Kiribati abandona o país que já foi o santuário da natureza no Pacífico Sul
Era uma vez um país paradisíaco chamado Kiribati, cercado por águas cristalinas. Seus coqueiros, embalados pelo ritmo dos ventos do Pacífico Sul, pareciam ensaiar uma belíssima dança à beira-mar. (ISTO É - Independente - 13/JUN/2008)

O clima tropical e o colorido dos corais espalhados nos 33 atóis fascinavam os cerca de quatro mil turistas que anualmente visitavam a ilha. Ao se olhar o horizonte de Kiribati, a sensação era de um lugar sem fim, e isso porque o seu ponto mais alto tem apenas 81 metros. Tão encantador quanto o cenário eram os seus personagens, ou seja, a população: cerca de 105 mil habitantes, 40% deles compostos de jovens com menos de 15 anos. Na bandeira do país, o lema "Te mauri, te raoi ao te tabomoa" significa, traduzindo-se da língua nativa ikiribati para o português, "Saúde, paz e prosperidade". Pois bem, é justamente isso, saúde, paz e prosperidade, o que acabou. Castigado pelas conseqüências do aquecimento global, Kiribati está se desfazendo como um castelo de areia, sendo aos poucos coberto pelo mar. Na semana passada, num discurso desesperado, o presidente Anote Tong pediu ajuda internacional. Do paraíso ao inferno, seu povo experimenta o êxodo, seus habitantes entraram para a história como os primeiros refugiados ambientais.

Dentro de dois anos, segundo a ONU, aproximadamente 50 milhões de pessoas vão receber essa triste denominação devido a problemas ambientais nas regiões onde vivem. "Estamos vivendo em um cenário muito diferente das fotos turísticas. Em algumas regiões, já é possível atingir água cavando apenas um metro de profundidade", disse o presidente Tong. Quando a maré sobe, poças d'água surgem repentinamente, espalhando o lixo pelas ruas de areia. A água invadiu casas e causa graves erosões. Com as suas raízes atacadas pelas ondas, as palmeiras estão caindo. "Nossa terra está desaparecendo sob os nossos pés", diz o presidente. Durante uma visita oficial à Nova Zelândia, ele assinalou que comunidades inteiras já foram deslocadas e muitas colheitas destruídas - a fúria do mar chega a ultrapassar até as barreiras de cimento. O aumento repentino da maré alaga as plantações de bwabwai, raiz rica em amido e uma das principais lavouras do país. O caos chegou a tal ponto que os moradores estão buscando de outras regiões 80% dos alimentos. Quando o nível do mar volta ao normal, o problema duplica: a terra fica salgada e a vegetação seca.


No começo deste ano a temporada de ciclones agravou a situação do país e, para conter o avanço da água, os moradores fazem proteções à beiramar. Mas o perigo surge por todos os lados. Como o solo é poroso, a alta das marés atrai a água subterrânea e então ocorrem as inundações repentinas. Segundo o presidente, até em dias claros se vêem poças d'água por todos os lados: "Pelo que estamos vivendo, Kiribati ficará apenas em nossas lembranças." Infelizmente ele está certo. Segundo dados das últimas cinco décadas, coletados pela Universidade do Havaí, o nível do mar na região vem se elevando 1,07 milímetro por ano. Como um picolé que derrete ao sol, as calotas polares do Ártico estão se desfazendo e elevando o nível do mar. Na Antártica, placas de gelo do tamanho de cidades se deslocam com freqüência cada vez maior. A ONU já afirma que além dos animais teremos países em extinção e essa é apenas a ponta de um iceberg que trará ferrenhas discussões geopolíticas, em um novo mundo onde nações serão desfeitas instantaneamente na água. Lago em fúria

RISCO Soldados drenam o lago
Cerca de 1,3 milhão de habitantes da província chinesa de Sichuan correm o risco de se tornarem os novos refugiados ambientais. Um forte tremor de terra atingiu na semana passada o dique do lago de Tangjiashan, ameaçando transbordar sobre a região. Centenas de soldados começaram a drenar o lago, onde o nível da água alcançou 742,58 metros acima do nível do mar - uma alta de quase um metro a cada 24 horas. Deslizamentos nas montanhas que circundam o local fizeram o governo remover 250 mil pessoas do vale de Mianyang.

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