terça-feira, dezembro 01, 2009

TERRA RARA

Eu ainda estou pensando no lixo espacial. Confesso que fiquei impressionada, e lembrei daquele documentário maravilhoso da BBC - Terra o poder do planeta, onde é citada esta hipótese, encontrei este excelente artigo (TERRA RARA). Se por um lado habitamos um planeta extraordinário em termos de complexidade de vidas e evidentemente uma extraordinária natureza, por outro lado parece que nós (seus habitantes) estamos alheios a isto tudo, será que valeria a pena encontrarmos outros planetas com as mesmas condições de vida que o nosso e com seres iguais a nós? Mais parecemos um vírus sem controle no planeta, onde tudo que tocamos destruímos ou sujamos, como se não fossemos parte desta natureza.
Terra rara sem dúvida, mas o que dizer de nós os seres humanos, pelo menos no atual estágio?
Ainda hoje ouvia em um vídeo uma moça fazendo uma analogia do aspecto mental da humanidade com a etapa da adolescência onde temos que lidar com questões controvertidas relativas ao nosso corpo, grupos sociais, etc. Mas até quando iremos ficar na adolescência? Como nada é obra do acaso, provavelmente há uma boa razão para que não se tenha conseguido, até o momento, encontrar vida semelhante a nossa. Vocês já imaginaram duas ou mais humanidades adolescentes juntas?

Contudo, leiam a matéria que é muito boa!


A existência de Vida noutros planetas é uma das questões da Ciência que permanece sem resposta. No entanto, a ocorrência de vários fenómenos no nosso planeta permite afirmar que o aparecimento da Vida na Terra não é puramente obra do acaso.

A hipótese da "Terra Rara" é, cada vez mais, uma hipótese a considerar na nossa forma de compreender a natureza e o ambiente terrestre. Em breves palavras ela prevê que a vida simples, unicelular e microbiana existe em geral no Universo, mas que a vida vegetal e animal complexa, multicelular e organizada, é muito rara. O nosso planeta, ao contrário dos outros, nomeadamente do Sistema Solar, reúne um conjunto de condições físico-químicas que, a acrescentar à sua própria evolução temporal e a uma localização espacial privilegiada, propiciou a ocorrência e o desenvolvimento da Vida. Será, portanto, um planeta especial ou um mero acaso?! Então, sorte nossa, não?

Fig. 1 - O Planeta Terra
No Universo, ou pelo menos no nosso Sistema Solar, a Terra constitui realmente uma excepção: é o único astro conhecido onde existe vida complexa. Este facto poderá dever-se à reunião harmoniosa de um conjunto de factores, de entre os quais podemos começar por referir a sua localização espacial: no extremo da Via Láctea, entre os planetas Vénus e Marte - nem demasiado próximo, nem demasiado afastado do Sol (fonte de energia primordial) - e protegido por Júpiter (devido à sua enorme massa e poder de atracção gravítica) da colisão de asteróides de grandes dimensões que poderiam esterilizar definitivamente o nosso planeta. Também a Lua, satélite natural da Terra, é fundamental à nossa existência, pela influência gravitacional que exerce em conjugação com o Sol, visível na formação das marés, muito importantes na dinâmica marinha.

No entanto, talvez o aspecto mais relevante para nós, porque contactamos com ele no quotidiano, seja o facto da Terra ser o único planeta conhecido que contém água no estado líquido. A gigantesca massa fluída dos oceanos está na origem de numerosos fenómenos vitais para o nosso planeta. Nem Marte - desértico, nem Vénus - infernal, nem mesmo os cometas gelados, conseguiram roubar este "segredo" da Terra: a existência de uma massa de água espumosa e revolta, rica em processos térmicos, químicos e geológicos intensos e, definitivamente, numa actividade biológica providencial. Mas o que existe de verdadeiramente incomensurável é a sua dimensão:

Fig. 2 - O nosso Sistema Solar (dimensões à escala)

1 370 biliões de metros cúbicos de água, que se estendem por 361 milhões de quilómetros quadrados de superfície terrestre, ocupando cerca de 71% desta, e transportando em permanência biliões de Watts de calor – equivalente a 100 vezes a produção humana de energia!!!

Fig. 3 - O oceano terrestre

Necessariamente a Terra teve a sua origem há cerca de 5 000 milhões de anos, numa mistura fluída de elementos metálicos e água nas devidas proporções (o que também é raro no Universo, de acordo com o conhecimento actual). Os astrónomos dizem-nos que a Terra já esteve cerca de 5% mais próxima do Sol e que toda a água que compõe hoje o Oceano se concentrou sob a forma de vapor na atmosfera, gerando um efeito de estufa semelhante ao que se verifica hoje em Vénus. Pelo contrário, também se sabe que a Terra já esteve cerca de 3% mais afastada do Sol e que os mares gelaram completamente há cerca de 2 400 milhões de anos (1ª glaciação), período em que o clima se aproximava daquele que se verifica hoje em Marte. Chama-se a esta alternância de condições ambientais Ciclos Cósmicos. Quanto aos áridos espaços interestelares, eles não contêm mais do que um ténue vapor de água e poeiras geladas.

Ao contrário dos outros planetas, o nosso constitui um pequeno paraíso, onde os oceanos bombeiam o calor que recebem do Sol e o distribuem das regiões tropicais para os pólos, e em que, ao longo desse trajecto, parte da água se evapora gerando nuvens, que ao saturarem fazem chover sobre os continentes. O oceano constitui, portanto, um verdadeiro termóstato do planeta, tendo um papel determinante, a par das florestas tropicais, na absorção de metade do dióxido de carbono emitido para a atmosfera (por exemplo, pelo escape dos automóveis), e contribuindo para a redução do efeito de estufa.

Também a atmosfera terrestre é única no nosso Sistema Solar, sendo composta por cerca de 70% de azoto, 20% de oxigénio e 10% distribuídos por dióxido de carbono, vapor de água e alguns gases raros (néon e árgon), e com características específicas, como a existência de uma camada de ozono que absorve a radiação ultra-violeta nociva aos organismos.

Mas, acima de tudo, o mar planetário deve as suas características sobretudo às que a pequena e estranha molécula, que o compõe em cerca de 96,5 %, possui - a molécula de água (H2O). Ela é um edifício atómico polar, electricamente sensível e susceptível de estabelecer fortes ligações com as suas congéneres.

Fig. 4 - A molécula de água (H2O)

Consequentemente, o líquido correspondente – a água – possui um poder dissolvente único e co-existe na natureza terrestre noutros dois estados físicos da mesma substância: sólido (calotes de gelo dos pólos) e gasoso (vapor de água na atmosfera, que se condensa em forma de nuvens). É graças a este equilíbrio entre as três formas de água que o oceano perdura e estabiliza termicamente o clima do planeta. Também a reactividade química da molécula de água é responsável pela capacidade dos mares dissolverem e transportarem os elementos presentes na crosta terrestre, e de assimilarem os nitratos e os fosfatos que mais tarde irão ser absorvidos pelo plâncton vegetal, base da cadeia alimentar marinha.

Foi devido à existência de água, e em tão grande quantidade, que a vida se pôde organizar quimicamente e sair das profundezas dos abismos oceânicos, há cerca de 4 000 milhões de anos, algum tempo depois do arrefecimento do planeta e do fim de um intenso bombardeamento de asteróides.

Assim, os oceanos constituem um enorme viveiro biológico. A cadeia alimentar marinha é a maior fonte de biomassa do planeta (cerca de 80%) e detém uma diversidade faunística incomparável a qualquer outro ecossistema terrestre.

Fig. 5 - A cadeia alimentar marinha

Os oceanos são ainda palco de extraordinários fenómenos de formação, movimento e destruição de crosta terrestre, com uma dinâmica semelhante a tapetes rolantes, que se designam por tectónica de placas ou expansão dos fundos oceânicos ou, ainda, deriva dos continentes. A superfície terrestre é constituída por várias placas litosféricas (crosta terrestre e camada mais superficial do manto), semi-rígidas, que assentam sobre a astenosfera (camada interior do manto, composta por material rochoso fundido e com carácter viscoso), movimentando-se horizontalmente umas em relação às outras. Este fenómeno é único no nosso Sistema Solar e pensa-se que é um dos importantes motores de desenvolvimento e evolução da vida, contribuindo para manter a biodiversidade e estabilizar, também, o clima do planeta.

Fig. 6 - Tectónica de Placas

Os principais locais desta actividade geológica são as imensas cadeias de montanhas submarinas, que serpenteiam continuamente ao longo de cerca de 60 000 Km em torno de todo o planeta. É nestas dorsais oceânicas (divergência de placas oceânicas) que o magma, proveniente da camada mais interna do manto, ascende à superfície para, ao arrefecer e a menor pressão, criar mais crosta que, por outro lado, se destrói e mergulha novamente no manto em zonas de subducção, próximo dos continentes (convergência de placas oceânica-continental). Como resultado, os fundos oceânicos são locais de cataclismos, sendo que 65% da energia emitida sob a forma de sismos provém destas regiões. Este tipo de fenómenos está também associado a vulcanismo submarino e a fontes de águas quentes (campos hidrotermais), ricas em minerais, que formam um verdadeiro “oásis de vida” na obscuridade das profundezas oceânicas.

Bibliografia sugerida

Alvarez, W. (1997) - T. Rex and the Crater of Doom. Princeton University Press, Princeton.

Beatty, J.; Petersen, C. and Chaikin, A. (eds.) (1999) - The New Solar System. Cambridge University Press, Cambridge.

Frankel, C. (1999) - The End of Dinosaurs: Chicxulub Crater and Mass Extinctions. Cambridge University Press, Cambridge.

Huggett, R. (1997) - Catastrophism: Asteroids, Comets and Other Dynamic Events in Earth History. Verso, London.

Murck, B.; Skinner, B. and Porter, S. (1997) - Dangerous Earth: An Introduction to Geological Hazards. John Wiley and Sons, New York.

Ribeiro, A. (1998) - Uma Breve História Tectónica da Terra. PARQUE EXPO98, Lisboa.

Ward, P.D. and Brownlee, D. (2000) - Rare Earth: Why Complex Life Is Uncommon In The Universe. Copernicus Books, USA.


Documentos Recomendados

The Dynamic Earth: The Story of Plate Tectonics

El Origen de las Especies

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