sábado, dezembro 12, 2009

Oásis sustentável

Empresa britânica desenvolve projeto que se valerá do mar e do sol para produzir água doce e transformar o deserto do Saara em uma grande reserva ambiental
Joice Tavares

Esqueça por algum tempo a imagem da região árida, inóspita e desértica do Saara. Agora imagine uma área com agricultura, água limpa e energia renovável. Finalmente, tente visualizar essa área ideal encravada no próprio Saara, um dos maiores desertos do planeta.
Não se trata de um oásis natural, mas, isso sim, do resultado de uma das maiores intervenções do homem no meio ambiente - uma espécie de oásis sustentável. Está-se falando do Sahara Forest Project, o mais ambicioso plano de construção ecológica no coração desse escaldante universo de areia, desenvolvido pela empresa britânica Seawater Greenhouse. O objetivo é devolver ao deserto do Saara a sua capacidade de produção de alimentos e de água limpa, de reciclagem e renovação de energia, exatamente como era essa região antes da desertificação, que os geólogos estimam ter ocorrido há 40 mil anos.
Para que esse fenômeno de transformação do deserto seja possível, o sistema de tecnologia previsto no Sahara Forest Project se valerá da água do mar, do sol e de condições atmosféricas para criar "ilhas" produtivas dentro de gigantescas estufas. Na entrada de cada uma delas serão instalados vaporizadores que transformarão a água marinha em puro vapor.


A umidade fará com que a temperatura no interior das estufas se mantenha na casa dos 15 graus centígrados, ou seja, em condições ideais para o desenvolvimento de lavouras. Quanto à luz solar, ela será filtrada nas estufas por telhados especiais.
Todo o vapor produzido será então revertido novamente à forma líquida através de condensadores. É interessante destacar que o volume de água pura que será obtido a partir dessa condensação será útil e suficiente não somente no processo de hidratação das plantas cultivadas como poderá também ser responsável pela geração e fornecimento de energia.
A água abastecerá conjuntos de turbinas que integrarão o sistema de obtenção de energia solar. Segundo os engenheiros e ambientalistas da Seawater Greenhouse, a energia resultante desse projeto será tão potente que poderá ser distribuída para a Europa.


O desafio era contornar as bruscas mudanças de temperatura e o excesso de sal no solo arenoso. Nos projetos piloto, engenheiros conseguiram lavouras estáveis e produtivas durante todo o ano
Produzir, armazenar e preservar água no deserto é, a rigor, o ponto vital do projeto de instalação de uma cidade no Saara. Além da geração de energia, essa água será utilizada, por exemplo, no cultivo de um tipo de pinhão chamado pinhão manso - cuja semente pode ser empregada na produção de biodiesel. Essa planta é bastante cultivada no Brasil nas diversas áreas com solos mais pobres das regiões Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste e trata-se de um arbusto que chega a atingir até quatro metros de altura, conseguindo sobreviver em condições pouco favoráveis - e é isso que garante a sua adaptação ao deserto. Atualmente o Sahara Forest Project já possui plantas demonstrativas em regiões áridas do Tenerife (a maior ilha do arquipélago das Canárias), de Omã e também dos Emirados Árabes Unidos, localizados na Península Arábica. Em Omã as estufas já rendem culturas produtivas para os povos que vivem no deserto. O sucesso dos planos piloto mostra que o projeto é uma alternativa racional e viável. Além de geração de energia (solar e através de biocombustíveis), produção de água e estabelecimento de agricultura (benefícios voltados mais diretamente para o homem), ele trará também vantagens ambientais indiretas ao funcionar no combate à cres cente desertificação do planeta.

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