José Roberto Goldim
Características Fundamentais
"Só uma visão sistêmica, unitária e sinfônica poderá nos aproximar de uma compreensão do que é nosso maravilhoso planeta vivo."(p.93, texto original de 1986)
Reverência pela Vida
"Só o cego intelectual, o imediatista, não se maravilha diante desta multiesplendorosa sinfonia, não se dá conta de que toda agressão a ela é uma agressão a nós mesmos, pois dela somos apenas parte.
A contemplação o inimaginavelmente longo espaço de tempo que foi necessário para a elaboração da partitura e o que resta de tempo pela frente para um desdobramento ainda maior do espetáculo até que se apague o Sol só pode levar ao êxtase e à humildade. Assim, o grande Albert Schweitzer enunciou como princípio básico de Ética 'o princípio fundamental da reverência pela Vida em todas as suas formas e manifestações'! Se há um pecado grave, esse é frear a Vida em seu desdobramento, eliminar espécies irremediavelmente, arrasar paisagens, matar oceanos." (p.85, texto original da década de 1970)
Tecnologias duras e brandas
"Ao contrário do que acontece com as tecnologias duras, que hoje arrasam o planeta porque, ao resolverem um problema, sempre causam uma constelação de outros, as tecnologias brandas sempre resolvem vários problemas ao mesmo tempo. Um exemplo apenas: hoje um pequeno matadouro é violento poluidor orgânico do curso d'água mais próximo. Se usasse os detritos em bioconversão adequada, teria gás para um motor estacionário ou para caldeiras (diminuição de demanda de eletricidade), produziria adubo para todo um esquema da hortas ou pomares orgânicos ao seu redor (produção de alimentos de alto teor biológico) e não mais largaria material orgânico no rio (não controle da poluição, sempre ineficaz, mas eliminação pura e simples da poluição).
As tecnologias brandas, que podemos chamar de tecnologias apropriadas, podem e devem entrosar-se em sistemas integrados." (p.61, texto original da década de 1970)
Ambiente Natural
"A visão cartesiana que ainda domina grande parte do pensamento científico atual coloca-nos como observadores externos da Natureza. Daí o conceito de 'ambiente natural'. O ambiente é visto como algo externo a nós, no qual estamos total e umbilicalmente imersos, é verdade, mas que não faz parte de nosso ser - uma dicotomia bem clara." (p.87, texto original de 1986)
Pesquisas em Animais
"A Vida jamais poderá ser compreendida nos termos que queria Descartes que, nos seres vivos, com exceção dos Humanos, via simples máquinas, relógios ou autômatos; robôs, como diríamos hoje. Mas esta visão ainda está bem viva, muito viva, por exemplo, nos laboratórios de toxicologia da indústria química, que submete milhões de criaturas indefesas - macacos, cachorros, gatos, ratos, proquinhos-da-índia e outros - por ela simplesmente classificados de 'cobaias', a torturas indescritíveis para, que em enfoque ridiculamente bitolado, estabelecer, entre outras abstrações indecentes, a 'dose diária admissível' dos venenos com que fazem seus grandes negócios. Esta visão, é triste dizê-lo, é comum em muito curso e aula de biologia, e nas modernas fábricas de carnes e ovos, eufemisticamente chamadas de 'criação confinada' e 'aviários'." (p.93, texto original de 1986)
Biologia Molecular
"Quando observo o trabalho dos biólogos moleculares, que se aprofundam sempre mais na dança das macromoléculas dos genes nos cromossomos, sem ligar para o organismo como um todo, me vem a imagem de alguém que, querendo conhecer e compreender os magníficos sistemas ferroviários europeus, por exemplo a Bundesbahn na Alemanha, se limitasse a estudar, com o microscópio, as letras nas tabelas dos grossos manuais de horários dos trens, e que passasse a vida fazendo nada mais que isso.
Não deixa de ser muito interessante o que toda esta gente descobre e cataloga e, por isso, esses trabalhos são muito importantes; mas , desvinculados da visão do todo, nenhuma orientação ética nos proporcionam. Aliás, é dogma corrente em círculos científicos modernos que a ciência nada tem a ver com valores, com ética, com política, com religião." (p.94, texto original de 1986)
Estes textos foram selecionados com o objetivo de permitir um contato com o pensamento ecológico do Prof. José Lutzenberger. Este ecólogo gaúcho produziu idéias que em muito se aproximam das propostas da Ecologia Profunda do filósofo norueguês Arne Naess. Os textos, produzidos nas décadas de 1970 e 1980, expressam a posição do autor em diferentes áreas que podem auxiliar na reflexão dos aspectos éticos associados às questões ambientais.
Lutzenberger J. Gaia, o planeta vivo. Porto Alegre: L&PM, 1990.
Observação:
Em 15 de outubro de 2004, foi lançado o Livro "Sinfonia Inacabada: A Vida de José Lutzenmberger", de Liliam Dreyer (Porto Alegre: Vidicom, 2004). Lutzenberger foi realmente um grande professor para todos que tiveram o privilégio de conhecê-lo. O livro relata passagens e textos que bem refletem a importância da obra de Lutzenberger para a nossa própria sobrevivência. O pensamento antecipatório e altamente integrador que ele possuía era sempre muito atraente, pois revelava uma grande sensibilidade ecológica, porém, também, causava estranheza ou descrença em outros. principalmente devido a sua incisiva argumentação. Uma frase, talvez, exprima este seu impacto sobre as pessoas:
Por que eu sempre nado contra a corrente? Porque só assim se chega às nascentes. (p.252)
Esta busca das origens dos problemas não era gratuita. Ela também pode ser entendida através de outra frase, de autor não identificado, retirada de uma entrevista da revista Der Spiegel, em 1970, que Lutzemberger sempre levava na sua carteira.
"Se alguma coisa dá errado, reflito sobre a maneira como posso transformar a situação problemática em uma vantagem. Esse é um truque muito importante na vida." (p.210)
Ecologia Profunda
Arne Naess
Albert Schweitzer
Definição de Bioética - 1998 (Bioética Profunda)
Página de Abertura - Bioética
Texto incluído em 27/01/1999 e atualizado em 24/10/2004
(C)Goldim/1999-2004
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